quinta-feira, 25 de setembro de 2008

COISAS DE MÃO-MOLENGA

Maurício Cintrão

As questões de trabalho me fizeram cruzar caminhos com os artistas do Instituto Mamulengo Social, aqui de São José dos Campos (SP).
Originário da Companhia de Teatro Estranhos Mamulengos, dos anos 1990, ligada à Igreja Católica, o Instituto é uma ONG de sucesso no atendimento a crianças e adolescentes em situação social de risco.
Não sei se vocês sabem, mas o mamulengo é um boneco identificado com a cultura popular, usado há séculos no teatro de animação de bonecos, a partir de Pernambuco, mais especificamente de Olinda.
Reza que chegou ao Brasil pelas mãos dos holandeses e ganhou esse nome porque é animado com mão-mole, mão-molenga, mão-molengo.
Pois foi conversando com o pessoal do Mamulengo Social que descobri: o mamulengo é um fenômeno cultural que se recria há séculos em vários pontos do país e não só no Nordeste.
Aqui mesmo, no Cone Leste paulista, teria existido como manifestação cultural regional até bem pouco tempo atrás.
Os cabeções de carnaval seriam prova disso.Ainda vou pesquisar mais a respeito.
O fato é que o teatro de bonecos no Sudeste exerceu forte influência em alguns segmentos de produtores da cultura popular.
Foi animado por personagens que se notabilizaram com nomes próprios, como Briguelas, Casimiros-Cocos e Joões-Minhocas.Bem, mas o motivo deste texto não é tanto a pesquisa histórica, e sim o meu espanto com o teatro de bonecos.
Pode parecer estranho, mas esse universo se descortina para mim somente agora, depois de velho.
Não que eu desconhecesse a arte da animação de bonecos.
Os fantoches também me fascinaram quando era menino.
Na adolescência, também fui encantado pelo Muppet Show.
A diferença é que nunca enxerguei a animação de bonecos assim.
E o que é o “assim”?
É uma maneira de entender a arte como instrumento transformador em sua essência.
Não se trata de fazer bonequinhos bonitinhos que promovem gracinhas para as crianças.
O teatro de animação de bonecos é uma atividade complexa, com história, tradição e fundamento.
Envolve não só texto, interpretação, cenografia e figurino, mas também a produção artesanal dos bonecos.
Mais ainda, envolve a arte de dar vida a esses bonecos.
É fascinante descobrir que existe uma grande variedade de companhias dedicadas a essa arte aqui no Brasil, em vários pontos do país.
O teatro de animação de bonecos mobiliza uma legião de criadores, produtores e técnicos.
E apesar da TV, ainda é capaz de encantar milhares de espectadores (de todas as idades) em teatros, escolas e praças públicas.
Peço que dêem um desconto nessa empolgação toda.
Por conta do meu filho Pedro, que completou seis meses na semana passada, ando meio obcecado com a releitura das coisas de criança.
Afinal, estou revivendo muitos dos sonhos da minha infância, vários dos quais foram revisitados com os outros quatro filhos.
Enfim, meus amigos, acho que descobri uma nova e explosiva paixão.
Coisa de mão-molenga.


fonte: http://crondia.blogspot.com/2008/02/coisas-de-mo-molenga-maurcio-cintro.html

MAMULENGOS: BONECOS QUE MUDAM VIDAS

Maria Fernanda Rezende da Mata , Kelly C. Maciel Guimarães , Orientadora: Profª MSc Maria Valdelis Nunes Pereira

Resumo: Este trabalho buscou conhecer o espaço de educação não formal. Para tal, deu –se a escolha de uma entidade denominada Instituto Mamulengo Social, sediada na cidade de São José dos Campos. Dentre as inúmeras frentes de trabalho desenvolvidas pelo Instituto foi focalizado o núcleo Sonho de Criança que tem como público alvo crianças em situação de rua. Além de investigar a relação do teatro Mamulengo com o trabalho social desenvolvido, foram feitas entrevistas com as crianças atendidas, no intuito de analisar qual a importância do projeto social para a vida destas.

Palavras-chave: mamulengo, criança, rua, projeto, escola

Área do Conhecimento: Ciências Humanas

INTRODUÇÃO

A temática social vem sendo progressivamente incorporada à discussão sobre o papel das escolas na atualidade. Cada vez mais, os educadores se conscientizam da importância de conhecer a realidade vivida pelos educandos e também da necessidade da abertura do espaço escolar para as comunidades a que estes pertencem. Portanto, o espaço escolhido se constitui na entidade denominada Instituto Mamulengos Social, situada em São José dos Campos.Um aspecto relevante para essa escolha foi o conhecimento prévio por parte de membros do nosso grupo da credibilidade do trabalho realizado por essa instituição.Outro ponto de interesse foi o fato da metodologia utilizada ter se originado do teatro de bonecos denominado Mamulengo. Diante disto, para o desenvolvimento da nossa investigação, foi organizado o trabalho em cinco focos. Um breve estudo sobre o terceiro setor, o que é o teatro Mamulengo, a metodologia do teatro utilizada pelo Instituto Mamulengo Social, como funciona a entidade Sonho de Criança e por fim, entrevistas com as crianças e a análise destas.

Nesse sentido, como futuros professores, o objetivo geral desta investigação foi conhecer um outro espaço educacional que não o da escola formal e avaliar a sua importância para a vida das crianças atendidas.

O TERCEIRO SETOR

Sabe-se que existe a divisão entre os setores público e privado que separa o Estado, primeiro setor, aquele que presta serviços à população e as empresas, segundo setor, que visa o lucro como meta principal. Porém, atualmente, tem se destacado o terceiro setor.

O terceiro setor, segundo legislação, tem sido identificado com o conceito de sociedade civil. É formado pelas entidades jurídicas não governamentais, sem finalidade lucrativa, objetivando o bem da coletividade. Nesse sentido a Instituição Mamulengo Social pertence a esse terceiro setor.

MAMULENGOS

Pesquisadores do assunto afirmam que a história dos bonecos atores é tão antiga quanto a história do homem. Sabe-se que essa prática vem desde a antiguidade, no Oriente, tendo como representatividade a religiosidade.

Uma vez que a origem destes bonecos se deu no oriente surge a questão de como IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1080 essa manifestação teria chegado ao Brasil. Ao que tudo indica existem suposições de que os colonizadores portugueses teriam trazido esse tipo de teatro ao Brasil por volta do século XVI, visto que, na época, vivia-se o apogeu desta manifestação na Europa. Supõe-se que em nosso país os bonecos tenham surgido dos presépios. As funções do grupo de mamulengueiros são divididas entre vários participantes:o mestre, contramestre, ajudante, intermediador e músicos.

Os diálogos são criados no momento do espetáculo e a platéia participa de forma constante e ativa, sendo grande a criatividade dos bonequeiros.

Dentre os personagens do mamulengo alguns aparecem com freqüência e estes podem ser classificados como humanos, animais e fantásticos. Fazem parte do núcleo dos humanos: o Capitão, o Padre, o Sacristão, o Janeiro, o Causo- Sério, a Chica, os militares, os advogados, os negros de briga e os cangaceiros.

METODOLOGIA MAMULENGA

Algumas características da filosofia mamulenga foram incorporadas pelo grupo teatral Estranhos Mamulengos. Durante as apresentações os bonecos sempre contestam aqueles que oprimem e prejudicam o povo, seja o coronel, a polícia ou um político esperto. Para isso é preciso que haja muita observação e visão crítica.

Outro ponto incorporado é a simplicidade da estrutura utilizada. Tanto o teatro popular como os projetos sociais buscam aproveitar todos os recursos que possuem, buscando funcionar com baixo custo e otimizar recursos. Essa é uma particularidade que o terceiro setor consegue realizar, diferentemente do poder público que acaba gastando muito da verba destinada a um determinado fim durante o trajeto de sua burocracia. A questão da agilidade e do improviso também são características adquiridas do teatro de bonecos. No dia a dia de uma instituição de atendimento a crianças e jovens esta atitude é relevante não há como saber o que irá despertar o interesse destes. Outra questão que exige agilidade e improviso é quando um novo projeto vai ser implantado. Ele precisa ser avaliado constantemente, transformando o que está errado rapidamente para evitar gastos desnecessários.

PROJETO SONHO DE CRIANÇA
Dentre todo o universo de trabalhos desenvolvidos pelo atual Instituto Mamulengo Social o espaço escolhido foi o Sonho de Criança. Esta escolha se deu devido ao fato do público atendido ser formado por crianças em idade escolar, mas que por alguma razão se encontravam nas ruas engrossando as estatísticas do trabalho infantil em nosso país. A situação retira destas crianças os direitos fundamentais dispostos no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Considerando o princípio de que as crianças devem ter seus direitos garantidos como cidadãos e que faz parte do compromisso de futuros educadores a compreensão da realidade vivenciada por estas, faz-se necessário conhecer para transformar esse quadro, participando como atores e não como meros espectadores de uma realidade dura e cruel.

Confrontando essa realidade, o trabalho do Sonho de Criança inicia-se pela abordagem com as crianças em situação de rua. Isso pode ocorrer diversas vezes, pois nem sempre as crianças são receptivas em um primeiro momento. Em seguida elas são convidadas a conhecer o espaço da entidade e brincar com algo que lhes agrade.

A arte tem um papel fundamental nesse primeiro momento, conquistando a criança e possibilitando que ela vislumbre outros horizontes. A dança, a música, as artes plásticas, o teatro, tudo isso serve de atrativo para que as crianças possam se interessar por atividades distintas das realizadas nas ruas.

AS CRIANÇAS

Ressaltando que o objetivo deste trabalho foi conhecer a realidade de um espaço educacional diferente da escola e avaliar a importância deste para a vida das crianças atendidas, houve a necessidade de interagir, acompanhando algumas atividades. Desta forma, foram entrevistadas cinco participantes do projeto Sonho de Criança que apresentaram o seguinte perfil: idade cronológica entre 9 e 13 anos, sendo quatro do sexo masculino e uma do feminino.

Alguns assuntos foram abordados com os entrevistados como a situação vivenciada por IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba.

Estes na escola, na entidade Instituto Mamulengo Social, no Projeto Sonho de Criança e nas ruas.

A CRIANÇA E A ESCOLA FORMAL

Sobre a escola, as crianças citam as atividades que lá desenvolvem. Ressaltam a importância de aprender a escrever, destacam disciplinas que estudam, entre estas ressaltam atividades com vídeo. Esclarecem, que além de assistir aos filmes, precisam escrever sobre o que compreenderam destes. Nota-se que reconhecem que tal atividade além de lúdica tem a finalidade de aprendizagem, como demonstra a fala a seguir:

"Legal, a gente aprende a escrever. A professora passa um tanto de coisa no quadro. Tem um tanto de professores, tem aula de matemática, português, ciências e aula de vídeo. Passa um monte de filme e depois escreve o que entendeu. Eu já vi Nêmo e Branca de Neve".

Sobre os professores da escola, destacam a forma com que estes tentam lidar com a indisciplina. As próprias crianças parecem justificar atitudes como gritar com alunos como aceitável desde que seja para solucionar a bagunça da sala. Eles afirmam também que nem sempre gritar resolve, e que algumas vezes os alunos só ficam quietos se forem aplicadas advertências. As afirmações se entrecruzam e trazem a tona o uso de punição diante da indisciplina na escola: Quando os meninos fazem bagunça a minha professora dá advertência e manda pra diretora. Professora que grita com a gente é chata mas ela só grita quando faz bagunça.

AS CRIANÇAS E A RUA

Ao abordamos o assunto de como era a vida das crianças antes de freqüentarem o projeto elas contam algumas atividades que exerciam. O fator que motiva o trabalho também surge nas falas:
"Eu ficava na rua olhando carro. Eu ficava fazendo malabares no sinal pra comprar roupa e comida. Muita gente que faz malabares usa o dinheiro pra comprar droga. Eu carregava sacola na feira".

AS CRIANÇAS E O PROJETO SONHO DE CRIANÇA

A respeito do Sonho de Criança contam das atividades lúdicas que desenvolvem e apontam para questões como o respeito ao outro. Marcam um diferencial quanto a forma com que são tratados quando fazem algo errado. Desta vez o respeito parece vir não só do educando para com o educador mas também do educador para com o educando. Outro ponto relevante diz respeito ao número de alunos em sala de aula. O excesso de alunos por sala que é encontrado nas escolas formais não é visto com bons olhos pelos entrevistados. A respeito do Sonho declaram : "Aqui não pode falar palavrão. A gente aprende a fala com educação. O professor do projeto não grita, só conversa. Na escola tem um tanto de aluno na sala, isso é chato, fica muita gente gritando, aqui não tem muita gente na sala".

Questionadas sobre o que estariam fazendo se não estivessem no Sonho de Criança, unanimemente respondem:"Eu taria na rua, no sinal, fazendo malabarismo. Eu ia olhar carro. Eu ia ta em casa".

A respeito se algo havia mudado na vida dos entrevistados após começarem a freqüentar o projeto, surgiram as seguintes respostas:

"Mudou tudo. Sai da rua. A professora não grita comigo. Aprendi a respeitar os outros".
Considerações finais

A avaliação do impacto de um programa social demanda uma pesquisa mais profunda, devido a sua complexidade, porém acreditamos que este contribui bastante para a formação de crianças e jovens. Para tal, a valorização da cultura brasileira contribui na medida em que é utilizada não como um objeto de estudo, como ocorre em muitas escolas, mas como uma filosofia de vida como fazem os Mamulengos, que têm como herói, aquele que não é o certinho, mas o contestador, o que pensa, o cidadão.

O professor que acredita no seu aluno e é defensor inflexível de seu potencial tem o poder às vezes de salvar uma vida, principalmente no caso de criança em situação de rua. Ele consegue melhorar a auto-estima da criança, pois não aponta a ela apenas os erros que cometeu, aponta, sim, a possibilidades da criança ser criança, de vivenciar o lúdico e prazeroso e desta forma proporciar auto confiança.

Referências Bibliográficas
(1) AMAS – Associação Municipal de Assistência Social. Programa de Criança: Brincar e Estudar – A construção de uma metodologia de combate ao trabalho infantil.Belo Horizonte, 1999.
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8069-90, Belo Horizonte, 1999.
DIMENSTEIN, Gilberto, ALVES Rubem. Fomos Maus Alunos. Papirus, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia- Saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1996.
SANTOS, Fernando Augusto Gonçalves. Mamulengo um povo em forma de bonecos. MEC/ FUNARTE, 1979.

Um Pouco de nos Mamulego


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terça-feira, 23 de setembro de 2008

O TEATRO DE BONECOS BRASILEIRO


MAMULENGO[1][1]:

Por Chico Simões e Alípio Carvalho Neto[2][2]

(O boneco é anterior ao homem. Mestre Sólon)

O primeiro registro de teatro de bonecos nas ruas do Brasil chega através de Luiz Edmundo em seu livro O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis[3][3]. Este texto revela que no século XVIII já eram conhecidos três tipos distintos de teatro de bonecos, entre estes, dois de rua.

Luiz Edmundo denomina-os de modo específico. São eles: “títeres de porta”, “títeres de capote” e “ópera de títeres”. Escreve sobre cada um deles, respectivamente:

Cá esta um, é uma porta escancarada, onde uma colcha de uma côr escandalosa se coloca latitudinalmente a dividi-la em duas porções distintas. Na parte superior, que é um vão, forma-se a boca de cena, sempre aberta ao boneco que aflora e gesticula animado pela mão de um homem escondido. [...] Não há cenário.

[...]

Aquém soleira o indefectível cego da sanfona ou rabeca[...]

A platéia pode ser curta mas é atenta e generosa. E não se compõe apenas, como talvez se pense, da massa vagabunda de ambulantes e escravos, boquiaberta tôda ela, à espera da bexigada final que os há de fazer arrebentar de rir. Há muita gente de meia de seda e de óculo de punho de ouro, que também pára e goza a ingenuidade do espetáculo, não esquecendo de escorregar a sua contribuiçãozinha.

Os títeres de capote, que eram ambulantes, andavam pelas feiras, pelos adros de igreja, em dias de festa, e por lugares de movimento maior.

Há Te-Deum em São Bento? No adro da igreja, necessariamente, haverá, pelo menos, um desses teatros de improviso, entre os mendigos e as negras vendedoras de cuscuz, de aluá e de laranja.
Curioso, porém, é ver a boca de cena dessa ópera improvisada, feita pelo próprio empresário com o planejamento amplo do seu capote, traçado de ombro a ombro, em linha horizontal, de tal sorte formando o campo necessário à movimentação do boneco.

Escondido na pregaria da capa, que tomba até os joelhos do homem-palco, está um guri que dá à personagem de pano e massa o movimento necessário.

O homem-palco é ao mesmo tempo, homem-orquestra, pois que, com os dedos repenica a viola da função que o capote nem sempre dissimula.

Deixemos, porém, o adro de São Bento, que os melhores títeres estão na parte baixa da cidade, e não são diurnos como os primeiros.[...]

É uma ópera de títeres, recém-montada, sala de fantoches, teatro de bonecos.[4][4]

Passa-se, agora, ao sertão brasileiro, “no ano da graça de nosso senhor Jesus Cristo de 1983”, O ambiente em que foi formado o teatro de bonecos “Mamulengo Presepada” é delirante.
Milhares de romeiros se deslocam rumo à “terra santa” de Juazeiro do Norte, no estado do Ceará. Profetas anunciam o fim do mundo: “de dois mil não passará”. Diversas ordens da igreja católica e apostólica romana disputam o espólio de almas deixado pelo “Santo” Padre Cícero Romão, um líder religioso e político que ali vivera na primeira metade do século XX, e que, envolvido com as disputas de poder, regional e nacional, fizera uma aliança estratégica com o mais famoso herói brasileiro, o bandoleiro Lampião, o rei do cangaço. O acordo visava combater o avanço da coluna comunista de Luís Carlos Prestes que percorria o Brasil pregando a salvação terrena dos homens. Desprezado pelo Vaticano, o Padre Cícero fora canonizado pelo próprio povo, que ainda hoje o venera como santo milagreiro. Os penitentes atropelam-se em peregrinação ao horto onde repousam seus restos mortais. Movidos pela fé, trazem ex-votos[5][5]. São milhares de cabeças, troncos e membros, muletas, fotografias de enfermos, mechas de cabelo, velas, fitas, flores de plástico e verdadeiras se confundem, enchem igrejas e salões sempre abarrotados de penitentes que deixam seus votos e sobem o horto para pagar a promessa.
Carregam pedras na cabeça, amarram-se em cordas apertadas com nós, açoitam-se em auto-flagelo, sobem ao calvário sertanejo ladeados por imagens que representam a via crucis do Cristo, chegando ao topo da serra numa mistura de êxtase e cansaço. Ali, prostram-se aos pés de uma estátua do Padre Cícero com mais de vinte metros de altura. Os mais afoitos tentam escalar o “Santo”, subindo pelos botões de sua batina. A polícia intervém, de imediato, com uma precisão incomum, mas a fé cega e o fervor místico desconhecem leis humanas. Mendigos e aleijados pedem esmolas, enquanto ambulantes anunciam produtos high-tech, made in China, contrabandeados do Paraguai. Vende-se de tudo: frutas, pastéis, sumos naturais, coca-cola, chapéus de palha e bonecos de barro; os produtos espalham-se pelo chão numa grande feira sob o sol escaldante. Garrafas de cachaça circulam numa clandestinidade mal dissimulada no ambiente sagrado do horto. Pedaços de carne assados na brasa são vendidos em espetos.
Crianças maltrapilhas contam em versos, por poucos tostões, a incrível história dos milagres realizados pelo “Santo” Padre Cícero Romão. Fotógrafos “lambe-lambe” misturam-se aos Polaroids para oferecer instantaneamente uma imagem do romeiro ao lad O TEATRO DE BONECOS BRASILEIRO o do “Santo”. Violeiros repentistas improvisam pelejas de cantoria, enquanto vendem folhetos de literatura de cordel. São histórias de amor e guerra, relatos “transhistóricos”, uma realidade e ficção que extrapolam o maneirismo, mágico e fantástico, da literatura “realista” da oficialidade latino-americana. Cegos cantam seus sofrimentos, suplicando esmolas e fazendo soar rabecas, violas e sanfonas, afinadas por dissonâncias autênticas que criam uma percepção extraterritorial, de tempo e espaço confundidos. Jesus Cristo, santos, guerreiros medievais, princesas e castelos juntam-se ao Padre Cícero e outros beatos, que ainda hoje vivem pelo sertão, fazem milagres e alimentam de fé um povo que só por ela vive. Comenta Gilberto Freyre:

Há um cristianismo ou catolicismo impregnado de influências não europeias que lhe vêm colorindo folcloricamente ritos, crenças e práticas. Há uma escultura: sobretudo de santos de pedra e de madeira. Há uma literatura oral, outra erudita e algumas intermediárias. Há o artesanato de couro, de palha, de madeira. A cerâmica. A arte do barro.5


Aqui se arma a barraca de brincar mamulengos. É o tópos em que a terra se move sob os pés e fica claro a sentença de Glauber Rocha: “Cultura popular não é o que se chama tecnicamente de folclore”. Em Juazeiro do Norte, Jerusalém sertaneja, a velha, o letrado conhecimento vigente da cultura popular brasileira revela-se um “pré-conceito”, um “pré-juizo”.

No bairro do Romeirão, a “Carroça de Mamulengos”, do Mestre Carlinhos Babau, prepara-se para mais uma brincadeira. A tolda é de madeira e revestida por um tecido florido. Se não há luz eléctrica, acendem-se os lampiões e lentamente a multidão aproxima-se. Alguns já são conhecidos, brincantes de outros folguedos, e se chamam, muitos, “Cícero” ou “Cícera” em honra do “Santo” padre. Homens, mulheres e crianças aconchegam-se junto à “empanada”, a arte do mamulengo não divide o público por faixa etária. Pedro Oliveira, o cego, afina a velha rabeca. É o último aviso, a função vai começar.

Primeiro os bonecos de dança, que são de vara ou luva e vara, fazem estrepolias, dão cambalhotas, rebolam e peidam provocando as primeiras gargalhadas, devolvendo ao mamulengueiro a satisfação do brincar. Uma das dezenas de histórias possíveis será apresentada, regada ao molho do improviso e dos diálogos diretos com a platéia que, afinal, quer sempre ver o circo pegar fogo e mete lenha na fogueira, fustigando os bonecos com provocações maliciosas. Os personagens são tipos bem conhecidos no lugar. As moças do baile são as “Quitérias”, o “Palhaço da Vitória” é ao mesmo tempo soldado e palhaço, “Janeiro Vai Janeiro Vem Janeiro Entra Janeiro Sai” alonga e encolhe o pescoço num movimento pervertido como seu próprio nome. Por acaso, a brincadeira hoje pode se chamar O Aniversário de Julieta e a Cobra que Comia Gente. “Mané Vou Lá Hoje” é o noivo. O “Velhinho Paruara” é tocador de sanfona.
“Benedito Bendito Grito Bacuráu da Silva Babau Dá No Oco Dá No Pau da Serra do Berdoega Inverga Mas Não Quebra Esticou Inrrolou Trançou Namorou Abraçou Beijou Xi Pou” é o nosso “anti-herói”. “Julieta” é a noiva, seu pai é “Capitão João Redondo” e “Catarina” é a cobra que come todos, salvo “Benedito” que após matá-la retira de seu estômago os engolidos, exceto o “Capitão João Redondo”, vilão e patrão autoritário que recebe, assim, o castigo merecido. “Urubu Limpa Mundo” surge para comer a cobra. Uma criança nasce em cena. Aparecem assombrações como a “Alma da Defunta Sem Vergonha”, o “Jaraguá” e o “Diabo José Luzbel Tufá”.
Dependendo do grau de “iluminação” de quem brinca e de quem assiste, uma brincadeira, nessas condições pode durar entre uma e quatro horas.

Saltando, mais uma vez, ou pulando literalmente para o carnaval de Olinda, topa-se com dezenas de bonecos gigantes que passeiam pelas ruas, roubando-lhes o fluxo intenso da festa. A estética dos “gigantões” brasileiros penetra em outras manifestações de rua e alarga o acervo das experiências cênicas dando-lhes um novo alento. É daí que o Mestre Carlinhos Babau retira a ideia do boneco-palco, o “Alegria”, com sua casaca que, ao ser aberta, transforma-se em palco para mamulengos.

Outro personagem, fácil de se ver nas feiras e praças movimentadas, é o boneco ventríloquo, contestador e malcriado muito usado por vendedores ambulantes de ervas medicinais, charlatões de grande credibilidade popular, que, certamente, sem o boneco falante, jamais prosperariam em seus negócios.

Tudo isto compõe a complexidade do universo do teatro de bonecos brasileiro, sempre renovado pela tradição. Ainda é possível encontrar no Brasil, diferente daquilo que se vê na Europa, estruturas socioeconômicas que, com suas contradições internas, levam o artista de rua a sobreviver, como um “menestrel” anacrônico, numa constante incerteza itinerante. É da instabilidade, de uma “opção” por falta de opção, que o mamulengo mantém-se vivo. Por funcionar, como divertimento sempre vigoroso, ou catarse cabocla, cujas regras estão fora do circuito “vital” dos “meios culturais competentes”, pois a norma surge de uma lógica da necessidade que condensa o brincante, o boneco e o público.

A maior parte daqueles que vivem a arte do mamulengo, fazem segundo uma tradição marcada pela oralidade e pouco, ou nada, sabem de sua história, rompendo qualquer compromisso com a idéia purista e conservadora de certos “folcloristas” que vêem no teatro de bonecos um dado estático, uma peça de museu, uma curiosidade prática e exótica para deleite de uma cultura turística. A dramaturgia popular em sua “ebulição e rebeldia histórica permanente”, como percebeu e praticou Glauber Rocha em seu cinema, adapta-se ao seu tempo e incorpora, sempre, a novidade revigorada do presente.

Ultimamente, grupos como o “Mamulengo Presepada”, “Carroça de Mamulengos”, “Circo Boneco e Riso” e outros mais têm proporcionado, a crianças e adolescentes que vivem nas ruas dos grandes centros urbanos brasileiros, uma oportunidade de convivência e de formação profissional por intermédio do teatro de bonecos e outras expressões artísticas de rua. São demonstrações efetiva de um acréscimo à tradição.

Manter uma tradição não é, simplesmente, copiar o que já foi feito ou fazer “tudo que o mestre mandar”. Entre outros mistérios, é impregnar-se, por convivência, da fisionomia e do espírito de uma herança vital, como prescreve Hermilo Borba Filho[7][7], desprezando as formas mumificadas que não comunicam sentimentos e visões de um mundo sempre personalíssimo.
Enriquecer o patrimônio herdado é dignificar a herança, e permitir que o teatro de bonecos desfrute e seja desfrutado pelo que provoca de atual em seus espectadores, desligando-se, portanto, do vínculo nostálgico e passadista tão cultivado pelo folclorismo. Era uma vez...


[1][1] Teatro de bonecos popular como é conhecido em Pernambuco. Palavra de etimologia incerta: talvez mão + molenga (mole) = mamulengo.
[2][2] Chico Simões – Fundador do “Mamulengo Presepada”, há quinze anos viaja pelo mundo brincando com bonecos. Conviveu com vários mestres e estuda a tradição. Atualmente é bolseiro do Ministério da Cultura brasileiro e com o apoio do CENDREV (Portugal) investiga os quinhentos anos do teatro de bonecos no Brasil e em Portugal. É palhaço.
Alípio Carvalho Neto – Escritor, ensaísta e músico, é, atualmente, investigador do Instituto Cultural de Macau e da Universidade de Évora, onde prepara tese de Doutoramento. Às vezes acompanha palhaços.
[3][3] Luiz Edmundo (1956). O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis. III vol. 4. ed. Rio de Janeiro: Conquista.
[4][4] Op. cit., pp. 537-540.
5 5 Gilberto Freyre (1978). Alhos e bugalhos: ensaios sobre temas contraditórios: de Joyce à cachaça; de José Lins do Rego ao cartão postal. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. p. 112.[6][6] Objeto, quadro ou imagem que se expõe em cumprimento de uma promessa, muitas vezes, moldado para representar iconicamente, por exemplo, a parte do corpo que se encontrava enferma.
[7][7] Cf. Hermilo Borba Filho (1987). Fisionomia e espírito do mamulengo. 2. ed. Rio de Janeiro: INACEN.

Companhia de Teatro - Parte V

Como dizia, foi naquele instante que o caminho começou a mudar, ali nascia realmente a Cia Mamulengos, então o nome começou a fluir, e ser ouvido.
Não demorou veio então os apelidos, uma vez que o nome mamulengo não era típico desta região, e as pessoas viviam a dizer aquele grupo os mamelucos, mamelengo, mamelocos, etc...


E por fim sempre terminavam a frase dizendo aquele grupo de nome estranho!

Então decidi-mos quando fundamos juridicamente a Cia de Teatro agregar o nome “estranho”, ficando o Estranho representando o popular:

  • O povo simples que nos batiza – nos cobra e fiscaliza, e a quem agradecemos, afinal somos nós parte deste povo, e ainda hoje vivemos em nossas comunidades.

  • E o Mamulengo a ideologia que nos motiva e guia que e nos mantêm com o pé no chão, que é motivo de alegria e tristezas, de onde tiramos nossas forças.


Apenas por isso e por mais nada, venham as tempestades que vier, serei, ou melhor seremos MAMULENGOS, e por isso sempre carregaremos com orgulho o nome de “Estranhos Mamulengos”.

CONTINUA...

Companhia de Teatro - Parte IV

Os membros desta Instituição gostam de dizer entre eles que Olhar a vida de uma empanada (nome que se dá aos palcos de boneco) e a forma que encontramos para se manter conscientes de nossa função social.

Somos artistas de rua e apenas isso!

Não queremos nem necessitamos de mais nada do que a função de brincar com o mamulengo para viver (cresci vendo minha fazer bonecos, e deles viver), não é da boca para fora que falava-mos isso.

E assim tocamos nossas vidas em frente, e assim começamos a trilhar outro caminho.

O que fazer, quando lhe pedem ajuda, como transformar uma palavra em atitude. Como transformar uma oração em um milagre.

Critica-mos as igrejas, os políticos, o crime, e nós o que fazíamos, gritava-mos, mais para quem, porquê, apenas pela euforia da juventude...


Como dizem, toda a ação desencadeia uma reação, e nós havíamos desencadeada uma, e era hora de pagar pelo nosso quinhão de responsabilidade.

Hoje sabemos o quanto é fácil vender um sonho, difícil é juntos tentar edificá-lo.

Após as apresentações da “Praça”, tivemos mães e usuários pedindo ajuda, então, na simplicidade dos bonecos, oferecemos a única coisa que possuíamos, e podíamos ofertar, oferecemos nossas companhias, e assim, um grupo de sete, foi multiplicado e multiplicado.

E uma legião passava a gritar junto...
CONTINUA...

Companhia de Teatro - Parte III

É a CIA ESTRANHOS MAMULENGOS um grito de protesto...

O nome Mamulengos vem da influência Da Minha mãe a Tia DUDA, Maria Zilda Faria, bonequeira de profissão, da avó Maria da Gloria que contava causos, e do boneco símbolo do nordeste.

O Mamulengo, sinônimo de crítica ao sistema, já foi proibido no Brasil em determinada época, porque era contra a dominação e a alienação, inclusive pela fé.

É o mamulengo um anti-herói, um brasileiro sofrido, mas que ama sua terra.

Inimigo declarado dos três poderes, não os PODERES CONSTITUÍDOS, mas sim o uso deles como ferramenta para oprimir o povo, para enriquecer alguns poucos, e manter na ignorância condutiva um povo feliz, amigo e crente.

Esse era nossa bandeira, essa é nossa bandeira!

Não brigávamos contra a igreja, apenas transformamos nossas orações em ações, não batemos de frente ao trafico, apenas nos tornamos outro caminho, não enfrentamos os políticos, mais sim fizemos nossa política, um anti-herói, que não se deixa ser humilhado, que não leva desaforos para casa, mais sempre disposto a estender a mão, a perdoar e recomeçar.

Uma vez batizado o mamulengo influenciou toda há historia de trabalho desse grupo, a forma de gerenciar, de pensar e agir junto ao publico.
CONTINUA...

Companhia de Teatro - Parte II

Falar da Cia de Teatro Estranhos Mamulengos e falar de fé, de crença, esperança.
Afinal nós nascemos ligados à Pastoral da Juventude da Igreja católica no ano de 1992.
Vale lembrar que essa mesma pastoral nós ajudamos a fundar em nossa região.

Obs. “Região” – Região do Putim, em São José dos Campos – SP.

Apesar da luta constante para fugir ao trafico e a criminalidade latentes na região, durante os anos de 1992 e 1993 perdemos diversos amigos, mais foi em mesmo em 1994 que não mais se conformando com a situação, que decidimos desenvolver um trabalho mais agressivo dentro do teatro.

Montando então o nosso primeiro espetáculo já com a bandeira de Estranhos Mamulengos, - “A Praça dos Sonhos Mortos”.

A praça – contava a historia de cinco dos amigos que foram levados direto ou indiretamente pelas drogas, e era narrada com o pano de fundo de uma praça, elemento simbólico, para uma região que se quer tinha asfalto, mas já era controlada pelas “BOCAS”.
O espetáculo chocou a igreja, devido a linguagem adotada pelo grupo levando-nos no fim do ano de 1994 a abandonar o trabalho dentro a Igreja.
É bom lembrar que não largamos nossas crenças, mas sim éramos jovens, e como todo jovem, queríamos gritar ao mundo nossas idéias.

Acreditávamos que uma região até então esquecida pelo poder publico tal qual era a região do Putim necessitava de uma ação mais incisiva junto aos jovens, e foi assim, que escolhemos nosso nome, nossa bandeira e nossa filosofia de vida.
Era o ESTRANHOS MAMULENGOS um grito de protesto...
CONTINUA...

Companhia de Teatro - Parte I


Cia de Teatro Estranhos Mamulengos
Ou
Instituto Mamulengo Social?


E sem duvida alguma difícil definir, mais difícil ainda e descrever por intermédio de palavras o que diferencia uma da outra, digamos que simbolicamente é a divisão do corpo e da alma;

- O Instituto Mamulengo Social seria o corpo que daria estrutura e hospedagem a alma;

- Já a Cia de Teatro Estranhos Mamulengos seria a alma, que evita que há casa fique vazia e se deteriore com o tempo.


Acredita-vamos e continuamos a crer que uma historia deve ser narrada por quem vive ela, ou ela nada mais seria que um texto cênico.
Todo o texto tem um roteiro um corpo narrativo, mas pode ter sua moral, seu conteúdo alterado, mudando assim sua alma na narração dependendo da Direção de cena escolhida.
Mas acreditamos principalmente que uma historia deve ser vivida e não escrita, talvez isso tenha defina nossa trajetória, talvez essa seja a única forma de compreender nosso trabalho. Para falar do Instituto Mamulengo Social é necessário falar antes de jovens sonhadores, de artistas empreendedores que mesmo sem entender assumiram o espírito desta cidade que não para, para isso é necessário falar de uma COMPANHIA DE TEATRO.
CONTINUA...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

UM POUCO MAIS SOBRE MAMULENGO

Dentro dos processos culturais de um povo, o teatro surge como uma expressão plena. E maior ainda será a expressão comunicativa se encontrarmos o verdadeiro teatro do povo — aquele que ele mesmo faz.
Dentro de uma sedimentação cultural, existe um resquício de formas vitais que são resguardadas pelo sentimento do povo.
O mamulengo, forma teatral que prescinde das aparições do homem no palco, é um dos mais típicos exemplos da cristalização de cultura. É derivado da marionete. Seria catalogado como fantoche de luva. São formas manipuladas com a introdução das mãos dentro de luvas, ficando os dedos encarregados de dar movimentos aos braços e cabeças do boneco.
Dentro do repertório do teatro de mamulengo, encontram-se peças que lembram a literatura de cordel. Sempre existe um diabo e um espertalhão que o convence de modo a lográ-lo. Existe ainda a sogra petulante e enjoada. Um valentão e inúmeros animais.
Como o artista do Norte é geralmente pobre, ele comercializa sua arte.
Existe sempre uma mulher que canta e toca tambor, um cantador, geralmente violeiro, além de dois ou três manipuladores. Cada manipulador pode animar duas figuras.
Sempre lembrando ligeiramente a Comédia dell'Arte, a ação termina com pancadaria.
Entre os heróis, existe o santo, que aparece como um deus ex-máquina, o espertalhão, que muitas vezes é o João Grilo da literatura de cordel e também do Auto da compadecida, de Suassuna.
Entre os vilões existe sempre o cangaceiro matador e o diabo. Além destes há ainda personagens do nosso folclore, tais como o lobisomem e o caipora.
Expressões "virge", "santa mãe" e o "cão" surgem durante as cenas, que geralmente mantêm uma característica simples. Baseiam-se quase sempre em um conflito entre o bem e o mal, que evolui para grande aperto do herói que, no fim, consegue a vitória.
Lendas sobre a vida dos santos, tão comuns no misticismo do homem nordestino, são de pleno agrado.
A confecção do mamulengo exige pouco gasto monetário, mas bastante imaginação. Contas, trapos, meias vehas poderão compor um personagem que encantará o homem simples que vê o mamulengo.
Pela sua simplicidade, seus temas, os bonecos do mamulengo representam toda a alma pura do brasileiro que vive e morre numa terra rachada pelo sol e fustigada pela seca.
O QUE É MAMULENGO


A palavra Mamulengo vem de mão-mole ou mão-molenga, que define pessoas que tem certa facilidade para lidar com bonecos. No Brasil, os bonecos começaram a ser utilizados em representações, no século XVI. No tempo dos vice-reis eram muito apreciados. Foi no Nordeste que o teatro de bonecos apareceu com destaque, principalmente em Pernambuco, onde até hoje é tradição. É o teatro Mamulengo, rico em situações cômicas e satíricas.